Dizem que basta um momento de pura magia, alguns segundos, para se decidir um jogo de futebol. No caso do Vitória Pico da Pedra cerca de 10 minutos — com uma mão cheia de golos — foram suficientes para vencer o União Micaelense.

 

  Os iniciados do Vitória Clube iniciaram — perdoem a redundância — da melhor forma o campeonato de São Miguel, batendo, de forma clara e por demais evidente para quem se sentou de frente para o calor em pleno feriado, por 7-0. Partida que, não fossem os primeiros 10 minutos do segundo tempo, teria uma história diferente. Mas não por isso deixaria de ter o mesmo vencedor.


  Miguel Furtado e Manuel Estrela, guarda-redes da equipa da casa, tiveram um princípio de tarde por demais tranquilo no campo José Silva Calisto. Não porque o União não tinha qualidade para chegar ao último terço, o que já fez pouco, mas porque os verde e brancos assumiram o jogo desde o primeiro minuto e superiorizaram-se em todos os aspetos que, na teoria, lhes dariam a primazia do jogo.


  Desde o início do jogo que a formação de negro teve dificuldade em parar os dois mais inconformados do Vitória: Dybala e Cristiano. Não, não são esses. Dybala, Diogo Moniz — este destro, ao contrário do homónimo — e Cristiano Fructuoso, deram o mote e causaram as mais perigosas situações de jogo numa etapa ainda precoce, a maior parte delas com origem pelo flanco esquerdo.


  Rumo aos balneários o resultado era de 1-0 favorável aos da casa. Resultado que tinha tanto de justo (o bloco do União defendeu muito e bem), como de enganador, dado o número de situações criadas pela formação do Pico da Pedra. Quem fez um intervalo prolongado perdeu o principal foco da partida, pois claro, os 10 minutos que abriram a etapa complementar: Henrique Cabral entrou para dar vários pontos finais ao que seria o desfecho da partida com hat-trick em 8 minutos e um poker na partida.

 

  Inúmeras equipas teriam desistido da procura do marcador e, apesar de na maior parte da partida não ter tido argumentos para equilibrar a contenda, o União foi tentando, com maior ou menor sucesso, também entrar no placar. Francisco Branco, capitão, foi o que mais tentou remar contra a maré, apesar de muitas vezes não ter tido o apoio necessário para capitalizar as suas investidas, não raras vezes em inferioridade numérica. Luana Amaral também entrou com propósito, mostrando uma movimentação diferente e procurando o espaço e as tabelas para criar desequilíbrios nas (poucas) brechas que o Vitória foi dando durante o segundo tempo, mesmo com o resultado já em números avultados.

 

  A equipa de Ricardo Medeiros e António Botelho, Tonecas para o futebol, bem que se pode orgulhar do desempenho da equipa. Uma vitória convincente e um grito de «presente!» para as demais equipas da Série “A” do campeonato de Iniciados de São Miguel, mais ainda depois de meses sem competir de forma oficial.

 

  Compreender algo importantíssimo é compreender que, em caso de uma vitória por números largos, nem sempre há que haver uma equipa que jogue mal. E o União Micaelense de Frederico Moniz mostrou pormenores interessantes, mas uma entrada apática e um bloco baixo, que foi baixando cada vez mais devido ao espaço que permitiam à ofensiva adversária, acabou por ser vital para a marcha do marcador.

 

  E lá está, o positivo maior acaba por ser a crença e a proatividade dos seus jogadores apesar do resultado. Dê-se o exemplo de Filipe Ponte, ele o mais baixo em campo em termos de estatura, mas um dos maiores em coração: sem grandes argumentos para disputar uma bola aérea ou destacar-se pelo físico, trincava a língua e ia focado a cada bola, mesmo que fosse virtualmente impossível lá chegar. Foi no primeiro tempo, pela ala direita, um exemplo do que significa lutar contra a adversidade. Com o tempo e maturação lá aprenderá a gerir o cansaço e saber por que bolas e lances vale a pena fazer uma piscina de metade do campo, mas, para já, fica a nota da atitude exemplar.

 

  Bruno Cardoso apitava para o final do jogo e, apesar de nem sempre a melhor equipa sair vitoriosa no por vezes cruel mundo do futebol, a equipa do Pico da Pedra ganhou, e ganhou bem. Sem contestação razoável e possível.

 

FICHA DE JOGO

 

VITÓRIA CLUBE PICO DA PEDRA: Miguel Furtado (GR); Toni, Samuel (c), Botelho e Zé Melo; Manuel Afonso e Cristiano Fructuoso; Diogo Moniz, Henrique Xavier e Cristiano Pereira.

SUPLENTES UTILIZADOS: Manuel Estrela (GR), Pedro Carvalho, Afonso Carreiro, Henrique Giesta, Henrique Cabral, Martim Cabral e Vasco Oliveira.

CLUBE UNIÃO MICAELENSE: Tomás (GR); Pedro Furtado, Miguel Anselmo, Rodrigo Pimentel e Gabriel; André, Francisco Macedo e Wilson; Filipe Ponte, Tiago e Francisco Branco (c).

SUPLENTES UTILIZADOS: Gonçalo (GR), Gaspar, Luís Freitas, Heitor, Francisco Costa, Henrique Silva e Luana Amaral.

 

GOLOS: Dybala (19’), Henrique Cabral (41’, 42’, 48’ e 68’), Rodrigo Pimentel (AG 45’) e Henrique Xavier (46’).