Agradecia que tivesse sido atempadamente alertado por sua excelência, senhor COVID, que este seria o último jogo de que ia falar antes da suspensão dos campeonatos de futebol e futsal em São Miguel. Desse modo passaria menos tempo da viagem até à Maia a queixar-me do nevoeiro que se fazia sentir no chuvoso fim de tarde de domingo.


Nessa nota, e porque esta também será a última crónica de jogo publicada nas plataformas digitais da AFPD durante tempo indeterminado, fruto das circunstâncias acima mencionadas, desejar celeridade no combate à situação epidemiológica na ilha de São Miguel e restante arquipélago, porque só com as condições necessárias é que os desportos, neste caso os de bola no pé, vai retomar e regressar à normalidade. Se vai lendo isto como atleta, dirigente ou até adepto, aguente desse lado porque, quanto mais rápido remarmos todos para o mesmo lado, também mais rapidamente isto volta aos eixos.


Dito isto, e no que foi o jogo em si: longe de mim ter a ousadia de afirmar que o Santa Clara “A” não ganhou bem. Porque não foi esse o caso. De um ponto de vista acabou por ser rotineiro e expectável, visto ser um emblema com outros recursos e que alinha no escalão acima. É verdade que Johan Cruyff uma vez disse que nunca viu um saco de dinheiro a ganhar um jogo (não que estejamos a falar em clubes milionários, mas vocês percebem a ideia), mas os encarnados confirmaram, de forma enfática, o favoritismo teórico. Venceram por 10-2 e levaram consigo o troféu do 1º torneio de futsal realizado na ilha, esta temporada.


Antes de me debruçar de forma mais minuciosa sobre o que aconteceu na quadra, dizer que não digeri bem o facto de ver um colaborador de um órgão de comunicação social, não credenciado, entrar na zona restrita às 3 equipas. Se não estar devidamente identificado não devia, de acordo com o que foi estipulado atempadamente, dar acesso a passar algumas portas, há outras que nem deviam ser questionadas. Parte do bom senso de cada um saber o seu lugar e não tornar isto numa folia porque, dessa forma, ninguém se entende. Não mando em nada nem em ninguém, vi o jogo no meu canto, mas peço que os outros, na falta de devida identificação, e que já tiveram o benefício da dúvida pelas autoridades competentes, façam o mesmo. E com o devido uso de máscara, claro. Não é assim tão difícil.


Mas adiante, o jogo. Se uma equipa do escalão acima faz valer essa diferença dentro da quadra não se torna difícil adivinhar o desfecho do jogo. Face à adversidade, a formação dos Remédios, orientada por Ruben Teixeira, não arredou pé, isso é preciso ser dito e enaltecido. Lutou pelo marcador numa situação dificílima de contornar e, mesmo sabendo isso, fez muito bem. Pior do que perder uma final seria sair derrotado e ter na consciência o sentimento de não ter dado luta. Aí não há qualquer contestação que a equipa da Bretanha fez o suficiente para se orgulhar. É um discurso muito giro e não existem vitórias morais, é certo, mas, dentro dos possíveis, é bem melhor sair dum jogo de cabeça erguida, sabendo que se tentou lutar contra a maré, do que o contrário.


A equipa santaclarense conseguiu conter uma aproximação continuada dos adversários à sua baliza, tendo eles a hegemonia no que à posse do esférico diz respeito. Não raras vezes, os Remédios ameaçaram no último terço com ataques rápidos por zonas exteriores, mas raramente ficou descompensado o quinteto do Santa Clara. É aquela situação em que os encarnados podem não ter tido o domínio do jogo em todos os momentos, mas tiveram, certamente, o controlo da mesma. Algo que se deve também ao facto de, aos 10 minutos de jogo, estarem a vencer por 4-1. Marcaram cedo em várias ocasiões e, apesar do Remédios ter conseguido reduzir o marcador, assim fica mais facilitada a tarefa de ditar o ‘tempo’ e arrefecer o jogo (tanto quanto é possível no ritmo frenético que é natural no futsal).


Havendo um prémio de melhor jogador do torneio, que costuma a ser entregue à equipa vencedora, um sério candidato à honra seria o terceirense Carlos Rodrigues, ele que apontou 14 golos em 4 jogos neste Torneio de Abertura. Contudo, há que enaltecer, de todo o modo, o coletivo da formação de Hernâni dos Santos. Extremamente coesa e com combinações interessantíssimas que não raras vezes acabavam por ser decisivas para criar situações de superioridade e, consequentemente, alvejar as redes adversárias.


Fica, portanto, a nota de que CD Santa Clara “A” e Remédios SC dos Açores foi o último evento desportivo levado a cabo pela AFPD antes da suspensão dos campeonatos, cuja retoma é, pois, ainda incerta. Numa noite chuvosa, mas dentro do calor do pavilhão. Fica a nota de um belo espetáculo de futsal, no qual nunca faltou emoção, pese embora a marcha do marcador.

FICHA DE JOGO

CD SANTA CLARA “A”: Manuel Rego (GR), Nuno Ribeirinha, Rui Martins, Carlos Rodrigues, Diogo Dias, André Silva, Nuno Oliveira, Sérgio Melo, Washington Oliveira.

REMÉDIOS SC DOS AÇORES: Afonso Rego (GR), Hélio Ponte (GR), César Fonseca, Diogo Barroso, Pedro Medeiros, Frederico Figueiredo, Paulo Alves, João Vasconcelos, Octávio Fragata, Paulo Miranda e Mário Penacho.

- Luís Barreira
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