À Lupa - CRÓNICA DE JOGO

 

Isto do futebol distrital é muito giro (mesmo, sem ironias): são 11 contra 11 naquele clássico domingo à tarde, com os protagonistas já exaustos por uma semana de trabalho. Sem me debruçar sobre questões financeiras, que para aqui não são de todo relevantes, realçar que estes que vemos a trincar a língua no campo fazem-no porque gostam disto. Eram os mesmos que há uma década atrás, outros mais ainda, andavam com a bola, já toda gasta, nos recreios durante aquele tão importante intervalo das aulas. E é por isso que, não jogando pela fama e pela fortuna, mas pelo amor que se tem ao jogo, a treinar à noite depois de um dia de trabalho, muitas vezes até colocando a bola primeiro que a família, é uma valente treta quando alguém se lesiona e coloca em risco, mais do que as próximas jornadas, o desempenho da sua atividade profissional remunerada.

 

Sem me adiantar mais nesta poesia que é o distrital, porque podíamos ficar aqui o dia todo (na verdade é só porque tenho limite de palavras delineado), desejar as rápidas melhoras ao Bruno Medeiros, B10 para o futebol, central do Santo António, que se lesionou no ombro no começo da 2ª parte do jogo de domingo.

 

E sim, meus amigos: jogou-se no campo José Silva Calisto no domingo. Já ia chegar a essa parte, mas a saúde e o bem-estar dos atletas está sempre em 1º lugar e por isso, para bem da coerência e da consciência pessoal, tinha de o fazer. Venceu a formação do Vitória do Pico da Pedra, por 3-1, naquele que foi o primeiro triunfo da equipa orientada por Elson Botelho na nova temporada. Uma daquelas vitórias que opôs dois dos elementos mais básicos do futebol e que, decididamente, foi fulcral para o desfecho do encontro: a eficácia contra, do outro lado, a falta dela.

 

Em clássica moda dos campeonatos distritais, e num jogo que teve nada menos, nada mais do que 6 bolas a sair do recinto de jogo (não pela linha, para fora do estádio, mesmo), apenas uma longa interrupção para assistência médica rompeu o ritmo de jogo que, com os seus belos momentos, foi frenético. Lá está, o tal jogar por paixão. Paixão que nem sempre a tática comanda, mas que o coração move para ir buscar aquela bola que parece impossível. E logo por aí está garantido um belo espetáculo.

 

Antes de falar dos golos propriamente ditos, tenho de perguntar: lembram-se do Tonecas? Aquela mítica personagem da televisão portuguesa, interpretado por Luís Aleluia (paz à sua alma). Que nada tem a ver com Tonecas, António Botelho, médio da equipa do Pico da Pedra. O nome é o mesmo, mas se aquele da televisão tinha sérias dificuldades em reter o que lhe era dito e, em português, não fazia nada de jeito, este é exatamente o oposto. Um dos treinadores dos iniciados da formação picopedrense, o médio, número 8 na camisola, e sendo assim um multifunções na casa, acaba por ser a própria antítese da alcunha que leva para o futebol. Mostrou um entendimento tática e qualidade técnica acima da média, ele que, perante um ritmo de jogo elevado, foi muitas vezes quem mais vez colocar um pouco de discernimento no momento ofensivo da equipa da casa. Assistiu para o 1º golo dos verdes e brancos e esteve, nos 90 minutos, incansável. Depois de dar a marcar, esteve muito perto de fazer o gosto ao pé da mesma, de livre direto, mas o grande pontapé acabou por ter uma defesa igualmente impressionante de Marco Furtado.

 

Se a 1ª parte, que terminou com igualdade a uma bola, teve os seus momentos e oportunidades de golo repartidas (o Santo António mais na transição, com o tridente de Hugo, Botelho e Travassos a transportar muito bem), foi na etapa complementar que o jogo realmente uma intensidade dramática diferente. A formação da costa norte procurou mais o golo, contrastando com a superioridade dos da casa no 1º tempo, mas esteve francamente desinspirada no momento da finalização.

 

Referir que os golos, e houve 4, foram todos originados de lances bastante distintos: o Santo António abriu o marcador graças a um autogolo de Diogo Brum, com a cabeça de Zequinha, capitão do Vitória, a encontrar o fundo das redes após a cobrança de um livre. Os outros 2 golos, ambos para os caseiros, surgiram, respetivamente, através de um passe de rotura e consequente 1-para-1 com Marco, com finalização exemplar de Ricardo Estrela, enquanto o tento que selou o desfecho da partida nasceu com a marcação de uma grande penalidade que, com a responsabilidade de decidir a partida, Ruben Leite teve toda a frieza do mundo.

 

Se golos houve, e em bom número, foi por demais interessante como lá chegaram: a luta entre os Tiagos, ambos números 6, e ambos médios em cada uma das equipas, o cá e lá interessante entre Érico Andrade e Milton, dois laterais com características ofensivas que acabaram por, sobretudo na 1ª parte, ser bastante interventivos no jogo.

 

De pontaria afinada, a formação do Santo António, comandada por Hélio Oliveira, podia ter saído da partida com outro resultado. Mas a verdade é que a vitória, ou a justiça dela, não pode ser discutida. Afinal de contas marcou mais a equipa com maior eficácia. E contra isso, corra a tinta que correr, há pouca discussão possível.

 

FICHA DE JOGO

 

VITÓRIA PICO DA PEDRA: Rodrigo (GR); Érico, Marcinho, Diogo Brum e Pedro Dinis; Tiago, Pacheco e Tonecas; Zequinha (c), Ruizinho e Luís Filipe.

 

SUPLENTES UTILIZADOS: Rodrigo Arruda, Ricardo Estrela, Frederico Cabral, Júlio Silva e Ruben Leite.

 

CLUBE DESPORTIVO SANTO ANTÓNIO: Marco (GR), Bruno, André, B10 e Milton; Tiago, Iúri e Elson Santos; Botelho, Hugo Lima e Travassos.

 

SUPLENTES UTILIZADOS: Dionísio Medeiros, Ruben Arruda, Ruben Rosa e Nuno Gonçalves.

 

GOLOS: Zequinha (33’), Ricardo Estrela (65’) e Ruben Leite (gp. 87'); Diogo Brum (29’).

 

- Luís Barreira
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